sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Sintomas Incoerentes

Outra vez sinto como se tudo fosse novo, deslumbrante
Como se todos fossem interessantes e me causassem alegria
Parece-me que cada momento valeu a pena, mérito meu
Conquista homérica de algo tão comum quanto morrer

Tantos anos indiferentes, passaram despercebidos aos olhos
As cicatrizes que ficaram formam rugas em volta do sorriso
Derrota omitida por recomeço sadio, perfeitamente enganoso
Um tempo maior que vidas, depreciando e somando ao meu ser

Construção de caráter, cidadão hipócrita para a sociedade
Julgado inapto tantas vezes, desacreditado por ditos "mestres"
Robôs repetitivos com alma humana, alma enxuta e fraca
Alma sedenta, emergente e voraz, mas alma sem voz

A realidade despe-se na minha frente como uma puta barata
A gravidade acerta-me a cabeça, como uma pedra gasta
Sonhos que viram pesadelos; pesadelos que ganham vida
Sintomas incoerentes de um futuro proibido para menores

Cada hora perdida e olhar vazio são vidas correndo riscos
Visão esverdeada, cheiro de látex, gosto de merda
Meus pés andam sem minha permissão, pois já sabem sua função
Me junto à multidão, pois é assim que deve ser. Fim de papo.

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Vingança!

  Você me matou por dentro. Cada palavra foi um tiro, cada gesto uma granada lançada. Cada mentira era uma avalanche. Agora, vou me vingar. Mas partir pro emocional, dar o troco na mesma moeda, isso não faz o meu estilo. Quero algo que te faça sentir dor, que fique na sua memória e no seu corpo por todo o sempre. Como uma assinatura, um autógrafo, uma tatuagem que te lembre da dor que eu te causei por ter me causado dor. Sim, sou vingativo. Não, não me arrependo disso. E acredite quando eu digo: cada segundo vai ser recompensador.  Pra mim, claro.
    Acho que vou começar quebrando dedo por dedo da sua mão esquerda. Essa mão que carrega esse anel ridículo. Depois vou quebrar os dedos da mão direita, pois acredito em lei da compensação. Estarei a aplicando, não? Depois, vou te fazer engolir baratas. Não sei se elas te apavoram, enojam, mas sinto que elas se sentirão em casa dentro de você. Quem sabe pratico a centopeia humana em você e nos outros que lhe fazem companhia. Eles não me agradam também. Creio que haja reciprocidade nisso, mas não me importo. Afinal, vão sofrer de qualquer jeito.
    Uma vez achei um livro de maldições. Vou ler algumas pra você, só pra você achar que está sendo mandada pro inferno. Acredite, estamos no inferno já. O que vem depois é lucro. Por isso que eu não vou te matar. Não quero ser o responsável pela sua salvação. Quero que você aproveite casa segundo no inferno que eu preparei pra você. Depois, quem sabe, encontramo-nos no Paraíso. Se eu vou pra lá? Acho que sim. Estou fazendo uma favor pra muita gente fazendo tudo isso com você.
     Acho que é o calor; insolação, sei lá. Mas quando eu te vi, me deu vontade de me vingar por algo que você fez e eu jamais esqueci. Eu te odeio. Não, não te odeio. Apenas ignoro a sua existência. Mas se eu puder, em uma noite sem vento de dezembro, um calor ardente e amargo, eu me vingo. Vendetta, ragazzi! Depois eu te beijo, só pra confundir...

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Hipocrisia, sua linda

   Quisera eu ser feliz sem ao menos ter motivo para tanto.  Sorrir para tudo e para todos sem dar-lhes justificativa, sem esperar retribuição, apenas uma demonstração grátis da mais pura e genuína alegria. Muitos dizem que um sorriso muda o dia de uma pessoa.  Então, que seja meu tal sorriso, capaz de transformar uma rotina, colorir o que era cinza, dar música ao silêncio. Quisera eu ser um rebelde sem causa da felicidade. Quero, mas não tenho vocação para isso. A safada da hipocrisia me enoja.
    Admiro quem consegue, sem peso na consciência ou repulsa própria, dizer "eu te amo" para cada ser vivo desse planeta sofrido. Parabenizo a pessoa que tem mais amigos de verdade do que dedos nas mãos, que considera família mais de cem pessoas, que conta o tempo de uma amizade, que chora  falsas lágrimas de consolo, que ri falsas gargalhadas de admiração e congratulações. Venero tais pessoas, pois não sou digno de tais dons. Abençoados sejam os "privilegiados" de tamanha "consideração". Destaque para as aspas.
     Queria, como disse, ser feliz sem saber o motivo do sorriso. Rir até perder o fôlego com o simples fato de poder sorrir. Ter uma parada respiratória de tanta alegria, ter um enfarto de tanta exclamação prazerosa de emoção! Quão belo seria morrer sorrindo? Quão horrível seria morrer sorrindo...? Um riso desperdiçado, nada mais é do que o sorriso do hipócrita, aquele compensatório, sorriso de empatia. Sorriso sedutor de garanhão sem cantada ou puta sem pudor. Sorrisos verdadeiros inexistem, por isso prefiro não sorrir. Sorrio quando posso, quando quero, quando ninguém mais pode ou ninguém mais quer. Sorriso zombeteiro, irônico. Aquele que vês no pesadelo, do monstro em baixo da cama. Antes fosse de hipocrisia.

domingo, 1 de dezembro de 2013

Love is a Losing Game - Amy Winehouse


For you I was a flame
Love is a losing game
Five story fire as you came
Love is a losing game

Why do I wish I never played
Oh, what a mess we made
And now the final frame
Love is a losing game

Played out by the band
Love is a losing hand
More than I could stand
Love is a losing hand

Self professed, profound
Till the chips were down
Know you're a gambling man
Love is a losing hand

Though I'm rather blind
Love is a fate resigned
Memories mar my mind
Love is a fate resigned

Over futile odds
And laughed at by the gods
And now the final frame
Love is a losing game

Papai Noel não sabe ler

   Mandei minha carta para o Papai Noel pedindo dias melhores. É o que mais preciso. O que mais quero é um notebook. Mas quem sabe com dias melhores eu consiga um notebook. Fiquei na esperança da minha carta chegar ao Polo Norte em segurança, sem que duendes metidos e enxeridos mexam e futriquem meu pedido. A não ser que eles tenham acesso ao meu presente, aí eu abro uma exceção.
    Seguindo conselhos, coloquei um rastreador e um microfone na minha carta. Desde então, acompanho cada metro e milha de distância que ela percorre, sempre atualizado de comentários maldosos ou confiantes de cada pessoa ou ser que botou as mãos na minha carta. Nos correios, riram do fato de eu ainda crer no Papai Noel. Durante a noite, os tais duendes pegaram a minha carta, fazendo observações sobre estarem de saco cheio de tanto trabalharem sem nada ganhar, mas que o velho não poderia ficar sabendo desse tipo de comentário. Sorri.
     Perdi o sinal do localizador quando a carta entrou no Polo Norte, mas parece que, por mágica ou sei lá, o sinal voltou quando ela foi entregue nas mãos do Santa Claus. Reuni toda a família para ouvir o que ele tinha a dizer. Eis aqui o relato completo do que ele disse:
        " ... pelo menos tá preso e não ganha presente, hô hô hô! Mas e essa, de quem é? (...) Mais um pedindo coisas que não sejam materiais? Será que a minha imagem de ser extremamente capitalista tá mal expressada? A minha cara todo ano na Coca Cola já não é algo transparente e lúcido o suficiente? Povo burro! (...) Lê pra mim aí, tu sabe que eu não sei ler! (...) Patético. Pega um notebook, põe no saco que eu levo. E ele que não reclame depois! Os dias felizes ele mesmo que faça. Qual a próxima carta?"
    Admito que fiquei com raiva e decepcionado no começo, mas não posso discordar dele. Os dias melhores sou eu que faço, mais ninguém. Peço a Deus todas as noites isso, e sei que eles virão. Papai Noel se tornou ilusão real depois disso tudo. Tomara que se engasgue e morra com leite e biscoito na noite de natal, velho filho da puta!

Um Recado Para o Cérebro

   Querido cérebro, vá  tomar no meio do seu cu hipotético. Por todas as ilusões que você me fez passar, por todas as conversas que você teve, mas que nunca aconteceram, por todas as expectativas que você criou, por cada pessoa que você colocou na minha vida, sem eu nem ao menos ter o desprazer de conhecê-las, por todas as situações de grandeza que eu nunca sequer passei perto de viver.
    Não paro por aqui, caro cérebro filho da puta. Digo ainda que cada falta de ideias, cada bloqueio de criatividade ou branco em algum momento raro de inteligência, não passou de uma peça pregada por você; sei disso, e sei o quanto isso te dá prazer. Ao invés de me ajudar, me prejudica para o próprio deleite. E, pior ainda, isso acaba se tornando meu deleite também. E cada memória é um golpe de mangual que me acerta as costelas, fazendo-as em migalhas com seus golpes impiedosos e lembranças ordinárias.
     Por tudo isso, admirável cérebro, peço que encontre-se na puta que te pariu. Pois não aguento mais suas necessidades, suas carências, seus blecautes, seus choros convulsivos, seus risos grotescos, seus truques ilusórios, cada momento desperdiçado por falsas esperanças e egos maiores que a Via Láctea. Lembre-se, pois isso é o que você faz de melhor, que te desprezo com todo o carinho, que te ignoro com toda a atenção, que sinto nojo com toda a satisfação, que te odeio com todo o amor. Decifra isso, porra!

sábado, 30 de novembro de 2013

A Morte do Amor

   Mataram o Amor. Assim como mataram milhares de pessoas hoje, ontem e sempre, não se sabe quem foi. Acredita-se que foi um assassinato coletivo, daqueles que possuem tantos autores, que seria imprudente prendê-los todos. Os especialistas especulam que todos os seres humanos sejam culpados por essa tragédia. Cada um de nós, a cada dia, foi deixando a vítima mais fraca e demente. Agora, todos nós lamentamos a perca desse grande sentimento que era o Amor.
    Médicos legistas confirmam marcas de estupro no Amor. Também pudera, se cada ato grotesco praticado por sociopatas sexuais era considerado por eles mesmos "apenas um ato impensado de Amor", não é de tamanha surpresa encontrar nele sinais de violência íntima. Muito embora, alguns psicólogos acreditam que se embasar no próprio Amor para justificar atos de tamanha barbárie seja digno de mentes diabólicas. Pesquisadores afirmam que esses tipos de mente são tão comuns quanto camisetas brancas.
    Famílias de todo o mundo assistiram a essa notícia de cabeça baixa, com faltas de ar momentâneas e suor nas mãos, pois sentiam culpadas e responsáveis por essa grande perda. "Acho que eu poderia ter procurado tentar entender melhor o Amor...", disse Vitas Diego, jovem estudante brasileiro, "...Mas é complicado buscar respostas quando não se tem interação. Fico até aliviado com o fato de ele ter morrido. Agora não tenho que lidar com a solidão que era a sua presença".
    A polícia confirma que todos, sem exceção, dos mais jovens aos mais velhos, são responsáveis pela morte do Amor. Sendo assim, garante que fará o máximo para garantir a segurança dos demais sentimentos de boa índole. "Já não sabemos mais amar. O que vier, ou deixar de vir, não passa do acaso".

Chuva de Lembranças

      Não sei o real motivo disso ter acontecido, mas quando começou a chover me lembrei de você. Assim, do nada. Quando vi, você invadiu meus pensamentos. Aí eu percebi quantas mágoas eu guardava, quantas vinganças foram arquitetadas pela minha mente deturpada, quantas dívidas imaginárias eu ainda insistia em querer cobrar. Todo esse ódio caiu sobre mim, como a chuva cai na terra, mas não consigo me lembrar o motivo pelo qual te odeio.
      Sei que fomos amantes em segredo. Você sempre bela e graciosa, cabelos longos ao vento, mas sempre me dizendo que queria fazer algo louco com eles, pintar, raspar, sei lá. Seus olhos pretos (não castanho-escuros, pretos mesmo) olhando tudo em volta como uma criança recém-nascida. Sua boca pintada, que mordia meus lábios e ria de prazer ao me sentir em você. Seu corpo, que, independentemente de tudo que lhe impusessem de melhoras, era meu templo e eu, como bom fiel, o venerava sem pudor. Sua alma, que brilhava com tanta intensidade que me cegava por um tempo, mas com o tempo, me acostumei, e amei, como amava tudo, simplesmente tudo nesse mundo quando estava contigo.
      Mas você morreu. Mesquinha, me trocou pelo paraíso. Foi para um lugar melhor, e me deixou aqui, nesse inferno diário, sem você. Aprendi a amar, mas amar apenas você. Nem vou tentar amar mais alguém. Quis morrer para te encontrar, mas morrer por vias próprias apenas te afasta ainda mais de mim. Quis te achar nas minhas orações, mas minha crença havia diminuído tanto, que não achava nem a mim mesmo. Você foi uma insolente, uma egoísta, legítima puta sem causa ao me deixar. E por isso, por ter te amado sem medida por tanto tempo, agora eu te odeio.
       Ainda chove, e cada relâmpago é uma facada no peito. Cada gota é uma palavra de consolo vinda da sua boca perfeita. Porra, se pelo menos fosse um tesão sem compromisso! Mas não, eu te amei, casei em sonhos, fiz filhos em pensamentos, te toquei na realidade e sinto sua falta em tudo isso. Você é insubstituível. Clichê hollywoodiano, sei disso, mas é. E por isso, não só por isso, por tudo isso, eu te odeio.



                                                              Com amor. Para Sempre.

Depois do dia que não vem

   Depois do dia que não vem, vou aproveitar ao máximo minha liberdade. Cacete, o que é liberdade afinal? Se não é possível roubar nem matar sem ser punido, diga-me você, sábio saco de carne, o que é essa utopia chamada liberdade? Palavra tensa, oculta, sem limites. Palavra que nos faz pensar em fazer tudo aquilo que queremos fazer. Tolice.
    Depois do dia que não vem, vou amar todos que me odeiam. Aí eu penso, qual seria a reação de tais pessoas? Será que elas passariam a me odiar ainda mais? Ou me amariam de forma recíproca, desfazendo todos os meus preconceitos e receios com relação a elas? Talvez realizassem seu sonho de liberdade. Talvez eu encontrasse meu amor em uma dessas pessoas. Babaquice.
    Depois desse fatídico dia que não vem, vou me desapegar das coisas mais pífias e desnecessárias, como celular, computador e emoção. Serei um solitário nesta vida solitária, cheia de pessoas vazias e mentes-marionetes. Na pior das hipóteses, uno-me a eles, fazendo número nessa grande e gorda bola chamada vida. Rolaremos eternamente hipócritas pelo futuro, sempre sorrindo e dizendo falsos "améns" para profetas verdadeiros, mas com precursores da Sua palavra com mais dinheiro no bolso que o Tio Patinhas. Com minhas palavras ácidas, humor gasto e carisma de um gato persa, quem sabe enriqueço também. Filha da putagem.
     Mas, como esse dia nunca virá, e faço questão que nunca venha, permaneço preso a esse pensamento herege de obter liberdade sadia e ilimitada, inimigos que viram amigos e recebem todo o meu amor platônico e besta, e o desapego seguido de riqueza, entre aspas, a favor de um bem maior. Freud ficaria orgulhoso de mim. Depois pularia da ponte. 
     


           
                  Com todo carinho que não tenho, pois quero mais é que se foda, 

                                                                                                   Vitas Diego