sábado, 30 de novembro de 2013

A Morte do Amor

   Mataram o Amor. Assim como mataram milhares de pessoas hoje, ontem e sempre, não se sabe quem foi. Acredita-se que foi um assassinato coletivo, daqueles que possuem tantos autores, que seria imprudente prendê-los todos. Os especialistas especulam que todos os seres humanos sejam culpados por essa tragédia. Cada um de nós, a cada dia, foi deixando a vítima mais fraca e demente. Agora, todos nós lamentamos a perca desse grande sentimento que era o Amor.
    Médicos legistas confirmam marcas de estupro no Amor. Também pudera, se cada ato grotesco praticado por sociopatas sexuais era considerado por eles mesmos "apenas um ato impensado de Amor", não é de tamanha surpresa encontrar nele sinais de violência íntima. Muito embora, alguns psicólogos acreditam que se embasar no próprio Amor para justificar atos de tamanha barbárie seja digno de mentes diabólicas. Pesquisadores afirmam que esses tipos de mente são tão comuns quanto camisetas brancas.
    Famílias de todo o mundo assistiram a essa notícia de cabeça baixa, com faltas de ar momentâneas e suor nas mãos, pois sentiam culpadas e responsáveis por essa grande perda. "Acho que eu poderia ter procurado tentar entender melhor o Amor...", disse Vitas Diego, jovem estudante brasileiro, "...Mas é complicado buscar respostas quando não se tem interação. Fico até aliviado com o fato de ele ter morrido. Agora não tenho que lidar com a solidão que era a sua presença".
    A polícia confirma que todos, sem exceção, dos mais jovens aos mais velhos, são responsáveis pela morte do Amor. Sendo assim, garante que fará o máximo para garantir a segurança dos demais sentimentos de boa índole. "Já não sabemos mais amar. O que vier, ou deixar de vir, não passa do acaso".

Chuva de Lembranças

      Não sei o real motivo disso ter acontecido, mas quando começou a chover me lembrei de você. Assim, do nada. Quando vi, você invadiu meus pensamentos. Aí eu percebi quantas mágoas eu guardava, quantas vinganças foram arquitetadas pela minha mente deturpada, quantas dívidas imaginárias eu ainda insistia em querer cobrar. Todo esse ódio caiu sobre mim, como a chuva cai na terra, mas não consigo me lembrar o motivo pelo qual te odeio.
      Sei que fomos amantes em segredo. Você sempre bela e graciosa, cabelos longos ao vento, mas sempre me dizendo que queria fazer algo louco com eles, pintar, raspar, sei lá. Seus olhos pretos (não castanho-escuros, pretos mesmo) olhando tudo em volta como uma criança recém-nascida. Sua boca pintada, que mordia meus lábios e ria de prazer ao me sentir em você. Seu corpo, que, independentemente de tudo que lhe impusessem de melhoras, era meu templo e eu, como bom fiel, o venerava sem pudor. Sua alma, que brilhava com tanta intensidade que me cegava por um tempo, mas com o tempo, me acostumei, e amei, como amava tudo, simplesmente tudo nesse mundo quando estava contigo.
      Mas você morreu. Mesquinha, me trocou pelo paraíso. Foi para um lugar melhor, e me deixou aqui, nesse inferno diário, sem você. Aprendi a amar, mas amar apenas você. Nem vou tentar amar mais alguém. Quis morrer para te encontrar, mas morrer por vias próprias apenas te afasta ainda mais de mim. Quis te achar nas minhas orações, mas minha crença havia diminuído tanto, que não achava nem a mim mesmo. Você foi uma insolente, uma egoísta, legítima puta sem causa ao me deixar. E por isso, por ter te amado sem medida por tanto tempo, agora eu te odeio.
       Ainda chove, e cada relâmpago é uma facada no peito. Cada gota é uma palavra de consolo vinda da sua boca perfeita. Porra, se pelo menos fosse um tesão sem compromisso! Mas não, eu te amei, casei em sonhos, fiz filhos em pensamentos, te toquei na realidade e sinto sua falta em tudo isso. Você é insubstituível. Clichê hollywoodiano, sei disso, mas é. E por isso, não só por isso, por tudo isso, eu te odeio.



                                                              Com amor. Para Sempre.

Depois do dia que não vem

   Depois do dia que não vem, vou aproveitar ao máximo minha liberdade. Cacete, o que é liberdade afinal? Se não é possível roubar nem matar sem ser punido, diga-me você, sábio saco de carne, o que é essa utopia chamada liberdade? Palavra tensa, oculta, sem limites. Palavra que nos faz pensar em fazer tudo aquilo que queremos fazer. Tolice.
    Depois do dia que não vem, vou amar todos que me odeiam. Aí eu penso, qual seria a reação de tais pessoas? Será que elas passariam a me odiar ainda mais? Ou me amariam de forma recíproca, desfazendo todos os meus preconceitos e receios com relação a elas? Talvez realizassem seu sonho de liberdade. Talvez eu encontrasse meu amor em uma dessas pessoas. Babaquice.
    Depois desse fatídico dia que não vem, vou me desapegar das coisas mais pífias e desnecessárias, como celular, computador e emoção. Serei um solitário nesta vida solitária, cheia de pessoas vazias e mentes-marionetes. Na pior das hipóteses, uno-me a eles, fazendo número nessa grande e gorda bola chamada vida. Rolaremos eternamente hipócritas pelo futuro, sempre sorrindo e dizendo falsos "améns" para profetas verdadeiros, mas com precursores da Sua palavra com mais dinheiro no bolso que o Tio Patinhas. Com minhas palavras ácidas, humor gasto e carisma de um gato persa, quem sabe enriqueço também. Filha da putagem.
     Mas, como esse dia nunca virá, e faço questão que nunca venha, permaneço preso a esse pensamento herege de obter liberdade sadia e ilimitada, inimigos que viram amigos e recebem todo o meu amor platônico e besta, e o desapego seguido de riqueza, entre aspas, a favor de um bem maior. Freud ficaria orgulhoso de mim. Depois pularia da ponte. 
     


           
                  Com todo carinho que não tenho, pois quero mais é que se foda, 

                                                                                                   Vitas Diego