quarta-feira, 2 de julho de 2014

Hóstia de Tofu

   Numa conversa com o Padre, confessei todos os meus pecados. Sabia o que estava fazendo, pois me disseram que os padres não podem sair falando, apenas escutar e entender. Apenas entender e perdoar. Falei tudo de errado que já fiz, todos os erros que cometi, todos os caminhos errados que tomei. Fechei os olhos e me pus a tagarelar, com certa angústia, achando que era Deus falando por mim. Ao levantar a cabeça, em busca de solidariedade, encontrei um "santo homem" estarrecido, enojado, amaldiçoando-me com seus olhos virgens.
   Saindo da "santa casa", senti-me corrompido, vindo do próprio inferno. Se aquele ser que trabalha pela fé, com fé (fiquemos assim), destoou da própria ética e humanidade por causa das minha confissões, que seriam das pessoas à minha volta? O que fazia eu para decepcioná-las, aterrorizá-las, entristecê-las? Será que era mesmo Deus falando por mim? Será que minhas convulsões eram passagens? Minha mãe me disse que eu a olhei com olhos acusadores, e eu neguei. Neguei certo?
   Tomei meu caminho pra casa, e os cães não paravam de latir. "Cães são os mensageiros de Deus", ecoava na minha cabeça. "Dog = God". Nunca gostei de gatos, vê se isso tem sentido! Eu tô contigo, sempre estive! Tudo bem, eu não frequento mais a tua casa, mas até onde eu estudei, onde me foi passado como lição, eu sou a Tua casa! Ou será que até no Ceu rola hipocrisia?