sexta-feira, 30 de setembro de 2016

Ombro Defeituoso

   Enrolado nas minhas dúvidas ou cobertas, não há nada que eu possa fazer. Não há passo a ser dado, palavra a ser dita, coração a ser partido. Infelizmente, deitado em posição ridícula, cá estou eu, sufocado em temerária ansiedade, contracenando em peças de puteiros que se passam na minha mente, dirigido por mim mesmo, duramente criticado por quem vos fala. Quebre a perna, filho da puta.
   Em tuas mãos passaram as palavras que me desabilitaram, automaticamente me desconectaram do real, me fizeram perder o nexo da verdade e me transportaram pra esse universo caótico e barulhento de pessoas tão comuns, rostos conhecidos, bocas que querem a sua. Em tua mente eu sou apenas um pobre miserável em todos os aspectos, complexo demais pra ser contemplado, simples demais pra ser jogado fora, mas que, em raros surtos de felicidade e falsa embriaguez, sabe se portar socialmente. Mesmo que tal socialidade seja feita nas molas do teu colchão.
   A grosso modo eu sou o único motivo que te impede de achar a verdadeira felicidade, o êxtase momentâneo, a curiosidade do momento, o prazer da descoberta e, enquanto isso me soca a garganta dia após dia, tua alma insiste em me repetir. Teu corpo resulta por me querer. Teu coração se encontra com o meu. Minha barra só se completa na tua presença.
   Preocupado, envergonhado, ainda na mesma posição desconcertante, fecho os olhos e te vejo naquele mundo. Você está olhando pra mim, distante de tudo e de todos. Tua mão está estendida, teu corpo inclinado, e eu me pergunto se tu queres que eu entre ou que eu te tire.

terça-feira, 20 de setembro de 2016

Pêndulo

   Exausto não é a palavra certa, mas é a primeira que me vem à mente.
  
   Será, meu Deus, depois de todo esse tempo, que eu não consigo parar deitado num chão gramado, sujo até, olhar pra cima, pro ceu, pras estrelas, não sei, e agradecer? Eu te respondo com dura certeza: não, e te digo o motivo.

   Mal agradecido não é a expressão correta, mas é a única que me vem à mente.

   Eis o motivo das minhas unhas roídas, dos meus dentes quebrados e língua mordida. Contemplem, caros e caras, a razão da minha angústia. Tão igual, tão próximo, sangue do meu sangue. Me sufoca com a fumaça diária do seu olhar e me mata, lentamente, com sua voz. A bênção, eu lhe peço.

   Bastardo não é a palavra certa... Mas bem que eu gostaria.

   Em verdade e em verdade vos digo, digníssimos: todos e cada um de nós cai na própria mentira. Em verdade e em mentira eu vos digo, que se foda. Minha mentira é genial e me chama de "meu homem".

   Amor não é a palavra certa, mas é o sentimento.

   Tentado diariamente a dar um fim em tudo isso, alucinado em sobriedade, tortura preta e branca, o gosto tão insosso de uma vida que não passa, de um relógio que não gira, a vontade insaciável de escrever e transpassar e transmitir a solidão.

   Tristeza não é palavra certa.
   Mas é a única.

segunda-feira, 19 de setembro de 2016

Vida (ou tristeza com vestido maltrapilho)

   Quem sabe uma vida não seja o suficiente pra mudar minha tão insistente inércia. Uma morte tentou, mas não obteve sucesso. Hoje me vejo nos braços de um amor proibido, cercado por ameaças invisíveis, porém audíveis, preso em celas de cipó e grade creme, tentado a mudar tudo radicalmente, algo que ainda hei de me acostumar, pra poder dormir com ambos os olhos fechados.
   Pingando de minhas mãos estão as lágrimas de meus familiares, concentradas no único lugar em que puderam achar desconforto e solidão, a tradução mais sincera do choro: meu frio espírito. Acaricio a todos e cada um com toques despretensiosos e involuntários, toques de quem não quer, toques de quem não vai. Ali e agora não. Os olhos, tão verdes, tão azuis, tão abertos e esbugalhados, julgam meus pretos, escuros, fechados e sonolentos olhos. Olhar cansado, só meu, direcionado para um futuro promissor já apagado pela certeza da derrota.
   Enquanto calo no caos e cuspo no luto, minha já manjada tontura causa incerteza nos teus passos, medo em tuas palavras e raiva na minha cabeça. Deus, seu brincalhão, se isso é um teste, deixa o motivo do meu riso fora disso. DEUS, seu sapeca, eu não tô te ouvindo! Feliz contigo, miserável sem ti. Leia nas entrelinhas, tava tudo no contrato.
   Mais um dia, mais uma pessoa a ser desprezada nesse local sujo. Palavras e palavras que juntas, olha só, estão formando um desabafo reprimido, tão sincero quanto a raiva que o tempo tem de nós. Dois anos se passaram e pouco mudou. Os sonhos pioraram. A tristeza ainda é a mesma. O ódio e o amor confundem-se agradavelmente. Mentira... Mentira.