sábado, 30 de novembro de 2013

Chuva de Lembranças

      Não sei o real motivo disso ter acontecido, mas quando começou a chover me lembrei de você. Assim, do nada. Quando vi, você invadiu meus pensamentos. Aí eu percebi quantas mágoas eu guardava, quantas vinganças foram arquitetadas pela minha mente deturpada, quantas dívidas imaginárias eu ainda insistia em querer cobrar. Todo esse ódio caiu sobre mim, como a chuva cai na terra, mas não consigo me lembrar o motivo pelo qual te odeio.
      Sei que fomos amantes em segredo. Você sempre bela e graciosa, cabelos longos ao vento, mas sempre me dizendo que queria fazer algo louco com eles, pintar, raspar, sei lá. Seus olhos pretos (não castanho-escuros, pretos mesmo) olhando tudo em volta como uma criança recém-nascida. Sua boca pintada, que mordia meus lábios e ria de prazer ao me sentir em você. Seu corpo, que, independentemente de tudo que lhe impusessem de melhoras, era meu templo e eu, como bom fiel, o venerava sem pudor. Sua alma, que brilhava com tanta intensidade que me cegava por um tempo, mas com o tempo, me acostumei, e amei, como amava tudo, simplesmente tudo nesse mundo quando estava contigo.
      Mas você morreu. Mesquinha, me trocou pelo paraíso. Foi para um lugar melhor, e me deixou aqui, nesse inferno diário, sem você. Aprendi a amar, mas amar apenas você. Nem vou tentar amar mais alguém. Quis morrer para te encontrar, mas morrer por vias próprias apenas te afasta ainda mais de mim. Quis te achar nas minhas orações, mas minha crença havia diminuído tanto, que não achava nem a mim mesmo. Você foi uma insolente, uma egoísta, legítima puta sem causa ao me deixar. E por isso, por ter te amado sem medida por tanto tempo, agora eu te odeio.
       Ainda chove, e cada relâmpago é uma facada no peito. Cada gota é uma palavra de consolo vinda da sua boca perfeita. Porra, se pelo menos fosse um tesão sem compromisso! Mas não, eu te amei, casei em sonhos, fiz filhos em pensamentos, te toquei na realidade e sinto sua falta em tudo isso. Você é insubstituível. Clichê hollywoodiano, sei disso, mas é. E por isso, não só por isso, por tudo isso, eu te odeio.



                                                              Com amor. Para Sempre.

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