quinta-feira, 17 de novembro de 2016

Vale dos sonhos dentre os prédios dos corações partidos

   Eram dois jovens curiosos, tão jovens e tão curiosos quanto outros tantos daquele singelo parque, mas estavam apaixonados. Estavam à beira do lago Esmeralda, sentindo o cheiro doce das Cirraguilhas-Maçonhas e ouvindo os cantos e prosas de não muitas décadas atrás, tomados pela profundeza do ceu escuro e pela liberdade do feriado em plena terça-feira. Enquanto em seu próprio mundo, os dois jovens viviam de maneira tão ávida e tão intensa que tudo era uma aventura: fossem as pessoas a estender suas longas vestes em tão úmido gramado ou o vento que lhes confidenciava os segredos mais secretos um do outro. Com sorrisos tão discretos e toques tão distintos, a energia aquariana inundava seus puros, mas não inocentes corações.
   Numa decisão silenciosa ambos se levantaram e decidiram sair dali. O ceu estava mais escuro, suas bocas já não sabiam mais qual destino tomar e seus corpos pulsavam de curiosidade. Se pudessem falar, pediriam, em uníssono, para serem explorados, curiosos corpos. Nunca em silêncio, tão jovens que são, saíram à procura de aventuras e o que acharam fez seus olhos brilharem de excitação: um vale de promessas e sonhos, um beco encantado e colorido no meio de todo aquele cinza e escuro do ceu e dos prédios, das pessoas, da tristeza e dos corações partidos. Tão jovens, tão curiosos, tão inocentes, meu Deus, foram logo entrando, sorrisos nos rostos, olhos arregalados, mãos dadas e não era nada. Apenas promessas.
   Saíram de lá menos jovens, menos curiosos e menos inocentes do que entraram. As mãos mais firmes do que antes, só eles sabem o nada que viram, os nadas e tudos que virão. De cabeças erguidas, porém em silêncio, caminharam pesadamente em meio à garoa. De frente ao Morro das Memórias, juraram se amar, então seguiram em meio ao cinza, não mais tão jovens, não mais tão curiosos, mas não menos apaixonados.

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